Eu já senti a dor da fome, passava tanta fome, que é
impossível esquecer desses dias tão miseráveis. O estômago roncava a mil,
ouvia-se por longo tempo, cessava apenas quando milagrosamente a galinha botava
um ovo.
Ficava pontualmente esperando.... esperava....
esperava.... olho no olho. Meus olhos suplicavam, a dor aumentava...Nesse dia a
galinha não botou. Fome! Que fome! Até que tive a grande ideia: convidar minha
irmã para visitar a roça do vizinho, era quatro quilômetros.
Fomos nos rastejamos, mas ao chegar lá toda canseira foi
retirada, apaixonei à primeira vista pelas gigantes melancias, as verdinhas
abóboras e grande espigas de milho verde.
Avassaladora nossa vontade de comer. Apanhamos tudo muito
rápido e fomos como burros de cargas, carreguei uma enorme melancia por quatro quilômetros.
Cheguei em casa, com o olhar da satisfação, como o caçador quando traz a sua
caça. Mamãe olhou para mim e rapidamente gritou:
- O é que isto? Onde arrumaram?
Puxando-me pelo cabelo fez-me confessar. Respondi
prontamente:
- Peguei da roça do vizinho. Achei que iria gostar...
- Volte lá e entregue tudo a ele, eu não estou criando
filha ladrona aqui!
Saímos chorando muito, o calor do final da tarde, a
fraqueza, retornar nas costas com tudo aquilo mais quatro quilômetros. Senti
como Jesus Cristo carregando a cruz, a humilhação, o cansaço. Tudo se misturava
ao suor transcorrendo do meu rosto.
Depois de muita tortura chegamos na sede do sitio do
vizinho. Pedimos muitas desculpas. Ele nos olhou com tanta compaixão, como
Maria aos pés de Jesus, e, para nossa felicidade, arrumou carregou a carroça
com muito mais... e nos levou para casa.
“Quem dá aos
pobres empresta a Deus, o qual virá a pagar com juros largamente vantajosos.
(Provérbios, 19- 17)