Joana, mulher que aparentava cinquenta
anos, apesar de ter menos, tinha o olhar encabulado e duradouro. Vivia tomando
remédio, se não erro as contas, uns dez por dia. De tudo reclamava, era ríspida
com as palavras, vivia com dor, entretanto sua maior doença estava no peito,
gritava por socorro. Dor que nunca sarava, mesmo com os melhores calmantes e
relaxantes musculares.
Como a própria vida é sábia, Joana foi
convidada por uma família para mudar para o Assentamento Dona Carmem. Essa
noite ela nem dormiu, a dor de seu peito estava um terremoto. Pensou, gritou,
chorou, roeu todas as unhas, gastou todos os seu créditos pedindo conselhos,
mas nada, amanhecer não chegava, até que de repente adormeceu e babou no sofá,
exausta!
Acordou meio dia com um voz gritando
JO-A-NA Pedrosa, você já fez o almoço? Segredo posso revelar: sua maior
competência era cozinhar. Hum, hum... disse Pedrosa. Pulou rapidamente do sofá,
toda descabela, abriu a porta e deparou-se com sua comadre Maria Joaquina.
Respondeu logo – Não fiz nada do que combinamos ontem, eu estou com muita
DOR... Todavia entre, tenho algo para te contar, talvez possa imensamente me
ajudar.
Assim Joana contou que uma família
assentada que conhecia há muitos anos atrás, bem antes do marido dela bater as
botas, encontrou-a no hospital sem programação, apesar de ser a paciente mais
conhecida, frequentar todos os dias, principalmente no período da tarde, quando
se sentia muito, mas muito sozinha.
Como o médico demorou para chegar teve tempo
para contar toda a história à Seu Chico e Dona Clara, atentos ficaram que não
desviavam os olhares. Depois de muita conversa, convidaram-na para morar com
eles no sítio perto do tão conhecido Che Guevara, pertencente ao município de
Mirante do Paranapanema. A partir desse instante ficou tremendo... Seu coração
estava muito indeciso...
A comadre Maria Joaquina pensou um pouco
e logo respondeu:
- Vá menina, experimenta, si gostá,
gostou, se não gostá, vorta logo pra casa, faiz ingual meu rimão Pedrinho, ele
tem coragi, vai logo muié de Deus.
Joana Pedrosa deu um pulo da cadeira
como as lindas baleias do mar, catou um saco e começou a colocar suas roupas. Juntou
uma belas panelas e correu ao trevo pegar carona. Passaram-se horas e nada... A
barriga de Pedrosa parecia um rato quando encontra algo interessante. Sem
esperança, permanecia ali, acenando.
Por volta das 18:30 parou uma vã, logo
gritaram as professoras “Vem”, toda atrapalhada e cansada Joana não conseguia entrar
na vã, mas quando entrou bateu panela e os outros cacarecos nos passageiros.
Uma professora logo perguntou: “Onde vai com toda essa mudança?” Característica
de professor: curiosidade e vontade de ajudar. Na inocência a cheia de dor
respondeu “Vou para casa de Seu Chico e Dona Clara, vou morar com eles...”
A professora insistiu com outra pergunta:
– Até que série a senhora estudou?
Joana respondeu que tinha parado na 4º
série, Ensino Fundamental. A resposta
foi um presente para a professora que todos a chamavam de Deuzinha, ela que
estava louca atrás de aluno para 5ª EJA. Era preciso convencê-la a voltar a
estudar, Deuzinha sentou-se imediatamente a seu lado e começou a explicar a
importância do estudo, ligeira pediu o tel da Pedrosa.
Passou uma semana e lá estava Deuzinha e
sua nova aluna Joana Pedrosa. O primeiro dia da aula a professora falou da
importância da leitura e ofereceu o livro “O Poder da Família” para Pedrosa.
Deuzinha aguçou a vontade de ler, leu o prefácio e a introdução do livro para a
sala. Joana ficou toda curiosa e sentiu-se desafiada.
Ao chegar em casa por volta da meia
noite, a nova aluna retirou o livro da bolsa e colocou-o ao lado da cama. No
outro dia de manhã começou o desafio, leu rapidamente dez páginas, correu fez
seus afazeres e leu mais dez. Depois mais dez, a cada página ficava mais feliz,
ria e chorava sozinha.
À noite na escola, Pedrosa contou a
Deuzinha a viagem que realizou com o livro, mas confessou que teve dúvidas em
muitas palavras. Deuzinha ofereceu-a um excelente dicionário para fazer
pesquisas.
Depois de três meses, Joana Pedroso
declarou que já tinha lido dez livros, autores que a encantou: Cora Carolina,
Luís Fernando Veríssimo e Monteiro Lobato. E as dores de nossa Leitora?
Viajaram para lugares distantes. Ela recuperou a coragem de viver... Pedrosa
trocou os remédios pelos livros, a tristeza pela descoberta, o medo - pela aventura.
Anos e anos Deuzinha, a mestra consagrada
da E. E. Esperança, recebeu a ligação da graciosa e feliz Pedrosa confirmando que
passou no concurso de delegada.
Morette
Maninha, amei seu texto
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