Maria era excessivamente
pensativa, ficava horas e horas refletindo sobre a vida, o que fazer, como
fazer, qual seria seu melhor comportamento; chegava até a ferver o cérebro de
tanto imaginação. Não tinha nenhuma vaidade, usava roupas simples e discretas,
cabelos sempre presos e batom era raro usar.
Os pensamentos eram somente negativos,
pensava que tudo poderia dar errado. Tinha medo de todos e de tudo. Medo de
dirigir, pegar carona na garupa de uma moto. Bicicleta nem pensar, ônibus sentia-se
sufocada e tinha muita falta de ar. Então, o jeito era ir ao trabalho a pé,
tinha inúmeros guarda-sóis e guarda-chuvas.
Trabalhava por trabalhar,
não tinha projeto de vida, exercia sua função como quem faz arroz e feijão
todos os dias, não acrescentava nenhum ingrediente. Era aquilo e mais nada. Trabalhava
no setor de limpeza ILLEROM LTDA, fábrica de calçados em Pacaembu, pequena
cidade da Nova Alta Paulista.
Aos poucos, as pessoas ao seu
redor foram se afastando e correndo dela. No trabalho quando chegava, todos
cochichavam baixinho “lá vem a Maria Doida”, vamos correr enquanto temos tempo.
A vida seguia seu percurso e
Maria foi ficando pelos cantos: solitária, desiludida, ansiosa e sem nenhum
entusiasmo. Era excluída de todas as conversas, presentes e confraternizações da
fábrica.
A solidão virou doença, ia
ao médico, fazia todos os exames, no entanto o exame físico não demonstrava
nada. Ela não se conformava, como podia
não ter dado nada, se doía todo o seu corpo. Já não dormia mais, seus olhos ficavam
cheios de olheiras. Apresentava rosto pálido e muito cansado.
Sexta-feira à tarde, quando
ela saia, toda tonta e atrapalhada do trabalho foi atropelada por uma carroça, deu
de frente com o burro de Seu Pedro, testemunhas confirmaram que a carroça
estava em alta velocidade. Maria ficou toda machucada, sangrando e chorava
desesperadamente até chegar a ambulância.
Seu Pedro ficou muito
chateado, apavorado quase sem voz a acompanhou na ambulância para saber
exatamente o estado da quarentona, enquanto alguns amigos recolheram as frutas
que trazia à cidade para vender, o chapéu, o burro e a carroça.
Após o atendimento, saiu Seu
Pedro sozinho porque Maria ficou internada. Quebrou a perna esquerda e o braço
direito. Coitada!!!
No outro dia, na hora da
visita, lá estava Seu Pedro com as frutas e o doce de abóbora, porque Maria não
tinha parentes na cidade e nem amigos.
Segunda-feira, Maria teve
alta e foi direto para o sítio de Seu Pedro e de lá nunca mais voltou para trabalhar
na fábrica. As fofoqueiras da cidade comentaram que ela sarou, está gorda e
vive cantarolando em cima da carroça, ajudando Seu Pedro a vender frutas.
Algumas juram que viram os dois se beijando.
AMEI O TEXTO, MUITO ENGRAÇADO E AO MESMO TEMPO UMA LIÇÃO DE VIDA. PARABÉNS, ESCRITORA DENIZE!
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