segunda-feira, 25 de abril de 2016

Amor
Meu marido e eu temos segredos
Muitos segredos
Segredos para o casamento durar.

Eu moro em São Paulo
Ele no interior
Eu gosto de apartamento
Ele, casa com piscina e churrasqueira.

Eu faço surpresas
Ele pula de sustos
Eu canto
Ele dança.

Enquanto ele distrai tomando cerveja
Eu vibro lendo Luís Fernando Veríssimo.

Eu teimo
Ele silencia
Eu tomo café
Ele vitamina de mamão.

Eu gasto
Ele economiza
Eu gosto de moda
Ele prefere estilo.

 Ele tem um segredinho louco:

 “quando saímos juntos

 Ele segura bem forte a minha mão

Faz juras de amor

Para que eu não saia

Correndo para as compras”.

Ah que delícia!
Nas diferenças, aprendemos
E juntos sentimos o calor do beijo
O toque das mãos
O Cheiro, o gosto
Do amor verdadeiro.




Morette


Crônica: Coragem de viver

Joana, mulher que aparentava cinquenta anos, apesar de ter menos, tinha o olhar encabulado e duradouro. Vivia tomando remédio, se não erro as contas, uns dez por dia. De tudo reclamava, era ríspida com as palavras, vivia com dor, entretanto sua maior doença estava no peito, gritava por socorro. Dor que nunca sarava, mesmo com os melhores calmantes e relaxantes musculares.
Como a própria vida é sábia, Joana foi convidada por uma família para mudar para o Assentamento Dona Carmem. Essa noite ela nem dormiu, a dor de seu peito estava um terremoto. Pensou, gritou, chorou, roeu todas as unhas, gastou todos os seu créditos pedindo conselhos, mas nada, amanhecer não chegava, até que de repente adormeceu e babou no sofá, exausta!
Acordou meio dia com um voz gritando JO-A-NA Pedrosa, você já fez o almoço? Segredo posso revelar: sua maior competência era cozinhar. Hum, hum... disse Pedrosa. Pulou rapidamente do sofá, toda descabela, abriu a porta e deparou-se com sua comadre Maria Joaquina. Respondeu logo – Não fiz nada do que combinamos ontem, eu estou com muita DOR... Todavia entre, tenho algo para te contar, talvez possa imensamente me ajudar.
Assim Joana contou que uma família assentada que conhecia há muitos anos atrás, bem antes do marido dela bater as botas, encontrou-a no hospital sem programação, apesar de ser a paciente mais conhecida, frequentar todos os dias, principalmente no período da tarde, quando se sentia muito, mas muito sozinha.
 Como o médico demorou para chegar teve tempo para contar toda a história à Seu Chico e Dona Clara, atentos ficaram que não desviavam os olhares. Depois de muita conversa, convidaram-na para morar com eles no sítio perto do tão conhecido Che Guevara, pertencente ao município de Mirante do Paranapanema. A partir desse instante ficou tremendo... Seu coração estava muito indeciso...
A comadre Maria Joaquina pensou um pouco e logo respondeu:
- Vá menina, experimenta, si gostá, gostou, se não gostá, vorta logo pra casa, faiz ingual meu rimão Pedrinho, ele tem coragi, vai logo muié de Deus.
Joana Pedrosa deu um pulo da cadeira como as lindas baleias do mar, catou um saco e começou a colocar suas roupas. Juntou uma belas panelas e correu ao trevo pegar carona. Passaram-se horas e nada... A barriga de Pedrosa parecia um rato quando encontra algo interessante. Sem esperança, permanecia ali, acenando.
Por volta das 18:30 parou uma vã, logo gritaram as professoras “Vem”, toda atrapalhada e cansada Joana não conseguia entrar na vã, mas quando entrou bateu panela e os outros cacarecos nos passageiros. Uma professora logo perguntou: “Onde vai com toda essa mudança?” Característica de professor: curiosidade e vontade de ajudar. Na inocência a cheia de dor respondeu “Vou para casa de Seu Chico e Dona Clara, vou morar com eles...”
A professora insistiu com outra pergunta:
– Até que série a senhora estudou?
Joana respondeu que tinha parado na 4º série, Ensino Fundamental.  A resposta foi um presente para a professora que todos a chamavam de Deuzinha, ela que estava louca atrás de aluno para 5ª EJA. Era preciso convencê-la a voltar a estudar, Deuzinha sentou-se imediatamente a seu lado e começou a explicar a importância do estudo, ligeira pediu o tel da Pedrosa.
Passou uma semana e lá estava Deuzinha e sua nova aluna Joana Pedrosa. O primeiro dia da aula a professora falou da importância da leitura e ofereceu o livro “O Poder da Família” para Pedrosa. Deuzinha aguçou a vontade de ler, leu o prefácio e a introdução do livro para a sala. Joana ficou toda curiosa e sentiu-se desafiada.
Ao chegar em casa por volta da meia noite, a nova aluna retirou o livro da bolsa e colocou-o ao lado da cama. No outro dia de manhã começou o desafio, leu rapidamente dez páginas, correu fez seus afazeres e leu mais dez. Depois mais dez, a cada página ficava mais feliz, ria e chorava sozinha.
À noite na escola, Pedrosa contou a Deuzinha a viagem que realizou com o livro, mas confessou que teve dúvidas em muitas palavras. Deuzinha ofereceu-a um excelente dicionário para fazer pesquisas.
Depois de três meses, Joana Pedroso declarou que já tinha lido dez livros, autores que a encantou: Cora Carolina, Luís Fernando Veríssimo e Monteiro Lobato. E as dores de nossa Leitora? Viajaram para lugares distantes. Ela recuperou a coragem de viver... Pedrosa trocou os remédios pelos livros, a tristeza pela descoberta, o medo -  pela aventura.
Anos e anos Deuzinha, a mestra consagrada da E. E. Esperança, recebeu a ligação da graciosa e feliz Pedrosa confirmando que passou no concurso de delegada.




Morette